Não por acaso, Sócrates é um marco na história do ocidente. Enquanto seus antecessores discutiam a respeito das possíveis archés da physis, o filósofo se volta para questões bem mais embaraçosas: O que eu conheço? É possível conhecer alguma coisa? Se conheço, como conheço? Nesse sentido, as ideias de Sócrates giram em torno do questionamento, o que levou à criação da Aporia de Sócrates e do Método Socrático.
A famosa frase “só sei que nada sei”, atribuída a ele, revela um pouco de suas inquietações. Embora o filósofo nunca tenha escrito nada em vida, seu discípulo Platão registrou um conjunto dos diálogos de Sócrates com outras grandes figuras da Grécia Antiga.
Aporia de Sócrates
Nos diálogos escritos por Platão, seu mestre Sócrates sempre aparece como um questionador que coloca seus adversários em contradição consigo mesmos, a esta prática deu-se o nome de aporia. Dessa forma, através de perguntas, ele mostrava como as posições inicialmente defendidas por seus interlocutores eram absurdas. Podemos usar exemplos práticos que ilustram esse processo:
Exemplo prático:
- Pense em um copo. Você já teve contato com muitos, provavelmente sabe como
são os copos. - Você consegue me definir o que é um copo?
- Embora eu não saiba sua resposta, utilizarei as respostas mais comuns: o copo é um recipiente e dá para colocar água nele.
- Se a sua resposta se pareceu com o exemplo acima, Sócrates questionaria: uma caixa d’água é um copo? E o mar, é um copo? Ora, tanto a caixa d’água como o mar são recipientes que dão para colocar água.
- Ok. Você tem mais uma chance de tentar definir um copo. Eu espero você pensar mais um pouco.
- Nesse momento, talvez você tenha elaborado respostas sobre o formato do copo e
e seu tamanho. Talvez algo como: “o copo é um recipiente cilíndrico de pequeno porte que é possível colocar líquido nele”. O que é uma resposta muito interessante porque agora a definição não cabe mais coisas como o mar e caixa d’água. - Mas, para esses, Sócrates diria : Todo copo é cilíndrico? Aqueles copos que tem o formato mais parecidos com um paralelepípedo deixaram de ser copos? Ou ainda: todo copo precisa ser de pequeno porte? E aqueles grandes copos de suco? Por não serem de pequeno porte, deixaram de ser copos?
Poderíamos passar horas aqui buscando definir o copo, o que seria interessante, mas não serve aos nossos propósitos. Claro que o exemplo é muito simplista de como pensava Sócrates e tem pouca relevância para consolidar uma ciência ou uma filosofia, mas serve para mostrar que achamos que conhecemos muitas coisas sem, ao menos, conseguir defini-las.
Etapas do conhecimento de Sócrates
Entretanto, para se falar de grandes temas, não podemos ter brechas assim. Por exemplo, nos diálogos socráticos, punha-se em questão temas como: “O que é a beleza?” ou “O que é a justiça?”. Muitas vezes temos noções muito vagas sobre essas coisas e agimos como se soubéssemos exatamente do que se tratam. O que é um grande problema para a filosofia. Como agir corretamente se não sabemos nem o que é a justiça?
Dito isso, uma das ideias de Sócrates discorria sobre o processo de conhecimento, que se desenvolve no método socrático. Dessa forma, para Sócrates, esse processo passava por três etapas:
(I) A primeira é a ironia: Ela consiste em investigar, através de perguntas, os limites do que conhecemos. Assim como fizemos ao perguntar o que era um copo no item 2.
(II) A segunda é a dialética que é a troca de informações através do discurso, através da troca de argumentos lógicos. Com a dialética podemos colocar o item 4 onde, através da troca de ideias, mostramos a inconsistência da primeira definição dada no item 3.
(III) Por fim, a maiêutica, que é literalmente parir ideias (já que a maiêutica se reefere ao ramo da obstetrícia). Através da ironia e da dialética nós damos origem a uma ideia nova e mais lapidada (como acontece no item 6).
Método Socrático
Nesse sentido, o processo de conhecimento de Sócrates pode ser definido como Método Sócratico. Em resumo, o método se sustenta na:
Ironia socrática, que consiste em investigar, através de perguntas, os limites do que conhecemos.
Dialética, que é a troca de informações através do discurso e dos argumentos lógicos.
Maiêutica, que é a produção de ideias novas através da dialética.