Romantismo: características, fases e autores

Se você acha que quando falamos em romantismo estamos falando em uma pessoa que adora dar ou receber flores, carinho e encher o outro de surpresas ou sempre ser surpreendido, bom, você está só parcialmente certo. Existem outras características do romantismo, principalmente quando falamos em romantismo no Brasil.

O romantismo é também um movimento de renovação artística que surge no início do século XVIII, e possui uma influências alemãs, inglesas, francesas, e claro, portuguesas e brasileiras. Podemos considerar o romantismo uma questão alemã. Isso não significa que não houvesse esse fenômeno em outros países; é uma questão alemã porque é essa versão que servirá de modelo para todo o mundo.

Nesse sentido, vale ressaltar que essa é a escola que permaneceu mais tempo em atividade na Alemanha, influenciando ainda hoje a cultura germânica. Essa versão do romantismo tem início com a revista Athenaum, que surge em 1797. Nesse sentido, poetas, dramaturgos e filósofos ligados a essa revista imprimem uma tendência por todo o território alemão.

Iracema, de José de Alencar, é uma das principais representantes da primeira fase do romantismo brasileiro. Essa é uma das obras com muitas características do romantismo e deixa bem explícito o que foi o romantismo como escola literária.
Iracema, de José de Alencar, é uma das principais representantes da primeira fase do romantismo brasileiro.

Características do Romantismo

A essa altura você já deve ter percebido que uma nova escola e uma nova tendência artística costuma se opor ao modelo que a antecede. Isso é válido para o romantismo em relação com o arcadismo. Contudo nem sempre é assim; veremos logo mais que durante a “era de transição” houve um sincretismo, em que poetas e escritores transitavam por escolas antagônicas entre si.

O romantismo se opõe ao neoclassicismo do arcadismo. Se diverge de características como a exaltação da razão, o objetivismo, a métrica rigorosa, a rima e a forma. Resumindo: é uma oposição a
insistente racionalização do mundo e a perda do mistério.

O sociólogo alemão Max Weber (1864 – 1920) argumenta que a modernidade inicia um processo de racionalização do mundo que culmina no “desencantamento do mundo”. O que seria esse desencantamento? O homem moderno deposita enorme fé na ciência, na promessa de progresso e na sua capacidade de usar a razão. Essa racionalização das coisas afasta o homem moderno do mistério, do sobrenatural.

Romantismo X Arcadismo

Para continuar falando sobre as características do romantismo, vale mencionar que a racionalização do iluminismo, tão cara ao arcadismo, resulta em um desencantamento, um afastamento entre o homem e a magia. No campo da religião há um rompimento entre fé e magia.

A razão desmistifica o mundo com a sua capacidade de decifração. Não há mais mistérios na realidade, e a natureza está nua diante do homem. O romantismo se opõe a essa racionalização que quebra o encantamento com o mundo. É uma escola que procurará recuperar o mistério da natureza, por exemplo.

Esse estilo romântico dá liberdade ao “Eu” do poeta, sua individualidade e subjetividade. Enquanto o arcadismo usa formas poéticas clássicas, com rigor na métrica e na rima, os românticos optam por iberdade na forma, elaborando, por exemplos, versos sem rima, e essa é uma das principais características do romantismo. Dessa maneira, existe uma afirmação da vontade do poeta.

Romantismo na Europa

Os românticos costumam fazer uso da prosa, elaborando romances e obras com uma narrativa mais longa. É nesse contexto que surge o primeiro grande romance alemão dessa escola “Os sofrimentos do jovem Werther”, de Goethe, publicado na Alemanha em 1774.

Sua versão inglesa surge em 1785 a 1830, enquanto a Inglaterra atravessava grande agitação em meio a revolução industrial e a greves operárias. É importante mencionarmos o romantismo inglês, pois esse movimento irá influenciar enormemente o romantismo brasileiro em sua segunda geração. Entre os ingleses, a poesia de Lord Byron terá um enorme destaque.

Romantismo no Brasil

O romantismo brasileiro (1836 – 1881) possui seu início com a publicação de “Suspiros poéticos e saudades” de Gonçalves de Magalhães. O Brasil conquista sua independência de Portugal em 1822, desse modo, a escola romântica nasce em um país já liberto. Além disso, é o romantismo brasileiro a primeira escola a evocar uma literatura autenticamente nacional.

Num geral, o romantismo europeu já valorizava o caráter nacional da cultura. No caso do Brasil essa é uma novidade surpreendente, pois é a primeira escola a reafirmar a independência do país, mas não significa que não houve antes dos românticos uma literatura brasileira.

No Brasil o romantismo possui algumas características marcantes:

  • individualismo em contraposição com o coletivismo pastoril do arcadismo;
  • imaginação ao invés da razão;
  • sentimentalismo ao invés da objetividade;
  • paixão ao invés da disciplina, religiosidade ao invés do paganismo.

Esses são grandes diferenças entre o romantismo no Brasil e o arcadismo.

1ª Fase: Nacionalista-indianista

A primeira geração do romantismo brasileiro usa temas religiosos, moralizantes, indianismo e intensidade na descrição da natureza. Dessa forma, podemos citar como principais nomes da poesia dessa fase são Gonçalves de Magalhães e Gonçalves Dias. Já na prosa temos: Joaquim Manuel de Macedo, Bernardo Guimarães e José de Alencar.

Os escritores da primeira geração usam temas como o nacionalismo, indianismo e a saudade – como a saudade da infância. É a primeira fase que existe uma intensificação da defesa da cultura nacional, por isso o índio aparece nos romances como herói. Ademais, há um elogio ao bom selvagem e uma exaltação de elementos próprios do Brasil, como a mata, as onças, os animais.

2ª Fase: Mal-do-século

A segunda fase do romantismo no Brasil é profundamente inspirada pela poesia de Lord Byron. Observa-se uso do individualismo, subjetivismo. Dessa maneira, o poeta romântico nesse período está perplexo com suas desilusões, e está carregado de pessimismo, negativismo.

Os poetas dessa geração estão desiludidos com a vida, portanto a literatura é um escape da realidade dolorosa. Em decorrência desse mal-estar a maioria dos românticos dessa fase morreram muito jovens.

Nesta fase, o mocinho é boêmio e galanteador. Seus principais representantes são: Álvares de Azevedo, Casimiro de Abreu, Fagundes Varela, Manuel Antônio de Almeida. Autores que realizam uma poesia lírica e mórbida; são pessimistas, melancólicos e identificam na literatura uma fuga da vida. Nesse contexto, essa fase é conhecida como a fase do “mal-do-século”.

Apesar de o romantismo literário ter uma linguagem própria, podemos associar a segunda geração romântica com sertanejos modernos, como a música “Flor E O Beija-Flor” de Henrique e Juliano, que exploram o sofrimento pela perda de um amor e apresenta um pessimismo extremo.

Leiamos um poema de Álvares de Azevedo:

Adeus, Meus Sonhos!
“Adeus, meus sonhos, eu pranteio e morro!
Não levo da existência uma saudade!
E tanta vida que meu peito enchia
Morreu na minha triste mocidade!
Misérrimo! Votei meus pobres dias
À sina doida de um amor sem fruto,
E minh´alma na treva agora dorme
Como um olhar que a morte envolve em luto.
Que me resta, meu Deus?
Morra comigo
A estrela de meus cândidos amores,
Já não vejo no meu peito morto
Um punhado sequer de murchas flores!”

No poema “Adeus, meus sonhos!”, podemos identificar o desespero do poeta, a desilusão amorosa. Assim, o poeta evoca a morte como saída e liberdade.

3ª Fase: Condoreirismo

De 1870 a 1880 temos a terceira fase do romantismo, conhecida como “geração Condoreira”. Recebe esse nome por uma associação metafórica com a ave condor, símbolo da Cordilheira dos Andes. É nessa fase em que se concentram as últimas manifestações do romantismo, que logo dará lugar ao realismo.

A fase Condoreira passa a se preocupar com problemas sociais brasileiros, por isso o nome inspirado numa ave, pois se ocupam de problemas nobres. Além disso, essa geração está marcada por uma luta contra a escravidão, que só iria ser encerrada no Brasil depois de vários séculos, em 1888.

Os escritores da terceira geração do romantismo usam um grande número de metáforas, uma linguagem eloquente e de denúncia. Nesse sentido, seu principal poeta é Castro Alves, abolicionista e descendente de revolucionários, cujo avô Silva Castro fora herói da Independência na Bahia.

Um de seus poemas célebres é chamado de “O Navio negreiro”. Leiamos:

O Navio Negreiro: Castro Alves

IV

“Era um sonho dantesco… o tombadilho
Que das luzernas avermelha o brilho.
Em sangue a se banhar.
Tinir de ferros… estalar de açoite…
Legiões de homens negros como a noite,
Horrendos a dançar…
Negras mulheres, suspendendo às tetas
Magras crianças, cujas bocas pretas
Rega o sangue das mães:
Outras moças, mas nuas e espantadas,
No turbilhão de espectros arrastadas,
Em ânsia e mágoa vãs!
E ri-se a orquestra irônica, estridente…
E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais …
Se o velho arqueja, se no chão resvala,
Ouvem-se gritos… o chicote estala.
E voam mais e mais…
Presa nos elos de uma só cadeia,
A multidão faminta cambaleia,
E chora e dança ali!
Um de raiva delira, outro enlouquece,
Outro, que martírios embrutece,
Cantando, geme e ri!
No entanto o capitão manda a manobra,
E após fitando o céu que se desdobra,
Tão puro sobre o mar,
Diz do fumo entre os densos nevoeiros:
“Vibrai rijo o chicote, marinheiros!
Fazei-os mais dançar!…”
E ri-se a orquestra irônica, estridente. . .
E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais…
Qual um sonho dantesco as sombras voam!…
Gritos, ais, maldições, preces ressoam!
E ri-se Satanás!”…

O poema “O Navio Negreiro” de Castro Alves foi publicado em 1869, quando o Brasil ainda mantinha o sistema escravocrata. Os versos fazem parte de uma obra maior chamada “Os escravos”. Dessa forma, em “O navio negreiro”, o poeta fala sobre as embarcações que transportavam negros vindos da África para trabalharem como escravos no Brasil.

Em seu poema temos características desse tipo de navio, e a população que nele viajava. Além disso, temos especialmente na quarta parte, aqui apresentada, uma descrição das pessoas que estavam nesses navios negreiros. Pessoas combalidas de fome, outros dançam, outros choram, e todos vão ficando mais embrutecidos. Assim, o poema de Castro Alves é uma das mais expressivas críticas a escravidão no Brasil.

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